Da astrofísica que não acredita em Deus...
A Professora Teresa Lago é astrofísica, Preside à Capital da Cultura 2001 e em recente entrevista afirmou: "três anos num colégio de religiosas doroteias deixou as suas marcas... nunca mais procurei Deus e os anjos no céu estrelado, nunca mais. De facto não acredito em Deus; um astrofísico dificilmente acredita" (In JN, 14.04.01, p. 2).
Os astrofisicos investigam a aplicação das leis fisicas aos corpos celestes (sua natureza, movimentos, novas leis, etc.). É, portanto, uma ciência que tem um objecto material que é o estudo da coisa em si, os astros, e um objecto formal, toda a imensa e diversificada actividade que se vai reconhecendo por meio de avançada tecnologia, sem esquecer a interpretação dos fenómenos e sempre o da origem e finalidades desse universo astral. Estes dois objectos são em si aspectos ou faces diferentes da verdade total, são verdades que exigem meios e métodos diferentes para a captarem, exigência esta que é uma regra fundamental e importantíssima quando se faz ciência. Assim, perante as verdades do abismo infinito da Verdade que é o Universo que observa, o astrofisico tem de saber olhar para além das leis da Física e recorrer a disciplinas diferentes que o levem a perceber o lugar do transcendente e do absoluto, e a tudo contemplar com outros olhos e diferente entendimento E isto é uma obrigação cultural, por um lado, e também tuna atitude honesta. No fundo, o cientista tem razões para copiar as peugadas mentais do nosso Padre Manuel Bernardes e perceber como ele faz o seu caminho para Deus (2.ª Parte da obra Luz e Calor, Lisboa 1696;SolilóquioVII - Contemplação das perfeições de Deus no espelho das criaturas): ... "Já que o meu arnado me fugiu, e lhe não posso alcançar os passos, pegarei ao menos das suas pegadas... por tantos modos, Senhor, fizestes as coisas invisíveis patentes aos olhos do homem; para que do sentido se elevasse ao espírito, e do espírito a Vós... esses celestes orbes... que são pregoeiros de sua glória: coeli enarrant gloriam Dei! E também Santo Agostinho, na mesma linha de pensamento (in: Confissões, ed. Liv. Apost. Impr., Li. X , Cap. 6, pg 245): Quem é Deus? Perguntei à Terra e disse-me: "Eu
não sou". E tudo o que nela existe respondeu-me o mesmo. Interroguei o mar, as suas profundezas e todos os seres vivos e eles responderem-me: não somos o teu Deus, procura-o acima de nós... interroguei toda a estrutura do Universo que me respondeu: eu não sou Deus, foi El que me criou". Por fim, o genial Einstein, o pai da revolucionária "teoria da relatividade" - que só Deus é, afinal, absoluto -, revelando sabedoria, disse: Deus não joga aos dados com o mundo... Deus é subtil, mas náo é malicioso. Acreditava que o Deus que criou a homem racional devia ter criado um universo inteligível (in: Os Pensadores. Daniel Boorstin, ed. Gradiva, pg. 394). E por essa via abria-se a Deus. E até o nosso Pessos, uma vez, por 1912, (Páginas íntimas e de Auto-interpretação, Textos estabelecidos e prefaciados par J. Prado Coelho eG. R. Lind, ed. àtica, pg. 6I) lembrou-se de Deus numa visão transcendente, um lúcido lampejo do espírito - até ele foi capaz de ver claro! - a escreveu a "Prece", onde se lê: Senhor... Dá-me vista para te ver sempre no céu e na terra, ouvidos para te ouvir no vento e no mar, e mãos para trabalhar em teu nome... e minha vida seja digna da tua presença...
Teresa Lago, pelo que sabe do maravilhoso universo astral, estará hoje em melhor posição intelectual para rever a sua experiência do juventude com as doroteias e encarar as realidades que lhe mostraram e que não captou doutra forma e por outros caminhos, seguros a apropriados à sua estatura mental, e que não só os da Física. E digo isto porque eu creio que os astrofisicos estão na posição privilegiada do chegarem a Deus, e serem crentes, e não incrédulos. Seria um acto cultural singular!
Levi Guerra